Monday, March 10, 2003

Entre o caos e a calmaria


Àqueles quem me lêem, devo esclarecer que o longo período inativo deste blog se deve mais a obstáculos geográficos do que a uma suposta preguiça de seu criador, se bem que esta não seja de todo nula. Optando por um carnaval tranqüilo, longe dos confetes e de orgias insanas, não pude contar com um meio de acesso a meu blog. Agora, já passado o tríduo momesco e a emenda que se seguiu até o final de semana, volto ao hábito salutar - penso eu -, que já se tornou um vício, de escrever publicamente.

Confesso, ainda, que mesmo em meio ao paraíso natural das praias do litoral norte paulistano, mesmo absorto pela atmosfera embalsamante da mata atlântica e ainda que sob o aconchego despreocupado de uma rede de balanço, tive saudades de meu computador e, particularmente, deste pequeno espaço cibernético.

Há de fato uma força revigorante no contato com a natureza e não foram poucos os autores que recorreram a paisagens bucólicas como fontes de alívio às almas irrequietas. Não é à toa que em todos os verões o ritual coletivo de descida ao litoral se repete, em que pesem os engarrafamentos e outros problemas de superlotação, numa tentativa desesperada de ver-se livre do corre-corre da cidade. Embora concorde em parte com esta crença, sou incapaz de me desfazer de alguns hábitos da urbanidade, e a tão propalada paz que adviria do simples contato com o vento límpido e a água fresca já não me surte o mesmo efeito após uma semana.

Certamentee não nasci para essa vida de Tarzan. Assim, entre corridas na praia ao pôr do sol e nadadas no mar, sempre me munia de revistas essenciais e do bom e velho Estadão. Contudo, embora estes me trouxessem notícias diárias da civilização, a falta de um bom cinema e de amigos de bom gosto faziam-se sentir à medida que o tempo escoava.

Antes que o leitor pondere que, tivesse eu uma Jane, tal qual o citado homem-macaco, me sentiria plenamente satisfeito, me antecipo a discordar. Nem mesmo uma Jane, personificada por uma... Luma de Oliveira?, bastaria pra me contentar com esta vida, digamos, selvagem. Não só porque a vida não se resume a sexo, mas sobretudo porque nem mesmo uma mulher de tal porte é capaz de abafar as necessidades espirituais de um homem concebido sob as vestes da cidade.

Também confesso uma certa aversão à crença dominante de que uma vida ideal se assemelharia à de um vadio, sem responsabilidades nem qualquer exercício intelectual. Se esta por vezes se faz necessária, decerto que não é a solução ideal. Acredito mesmo num equilíbrio entre o frenesi citadino e a calmaria litorânea ou campestre. Assim, antes que o crucial e prazeroso convívio com o ócio e a natureza se transformem em tédio, volto ao também indispensável caos de cada dia.





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