Friday, March 28, 2003

As mulheres e seu "timing" (devaneios...)




A guerra no Oriente Médio, a miséria e subnutrição de povos subdesenvolvidos ou o desrespeito aos direitos humanos em países cuja legislação pouco difere de um código de Hamurabi são de fato problemas importantes. Mas gostaria de atentar o leitor para um assunto não menos relevante – o timing das mulheres.

No injusto jogo de seduções a que homens e mulheres se submetem diariamente, há sempre este lapso temporal a ser desvendado pelo homem. Digo injusto, pois não considero a histórica iniciativa masculina na condução do flerte algo natural e não vejo razão para não haver uma inversão de papéis. Há quem se refira às cantadas como algo prazeroso. Considero-as um mal necessário, sempre um empecilho, um caminho por vezes tortuoso a ser transposto.

Dirão alguns que os tempos mudaram, as mulheres saíram de casa, conquistaram sua independência, e hoje, donas de si, assumem o papel que seria naturalmente relegado aos homens, posicionando-se na condição de caçadoras. Bobagem. É bem verdade que elas podem lançar olhares insistentes, fazer comentários indiretos, simular trombadas ou elogiar efusivamente a cor de seus olhos. Mas não vão muito além. O ponto final meus caros, o golpe de misericórdia, sempre haverá de ser perpetrado pelo macho. Na sua condição passiva, as mulheres raramente ultrapassam a fronteira natural a ponto de arriscar um beijo, ou mesmo requisitá-lo. Ao homem caberá esta ingrata função, sob os riscos costumeiros da rejeição.

Não bastasse este papel empreendedor a que nós homens somos obrigados, o timing surge como um agravante. Em outros tempos, quando as mulheres podiam ser genericamente divididas em moças de família e mulheres da vida, havia um conhecimento prévio da duração do flerte. Às primeiras, moças recatadas, reservava-se uma conversa séria, com direito a exposição de títulos acadêmicos e conhecimentos gerais. Era o momento de mostrar atributos tais como simpatia, cultura e educação, com o intuito de satisfazer a dúvida da pretendida – Será que ele tem alguma coisa na cabeça? Já às segundas, tal “cozimento” não era necessário, tudo se resumindo a questões financeiras.

Hoje o timing revela-se um dos grandes mistérios a ser desvendado pelo homem. Cabe a ele sentir o momento mais propício para o ataque (usemos um termo de guerra, já que está em voga). Nesta árdua tarefa, um cálculo mal feito pode ser fatal, tal como nas incursões militares. Hamlet poderia ter dito: falar mais ou falar menos, eis a questão.

Muitas vezes uma graça qualquer é o suficiente para completar o ato. Mas há sempre mulheres à moda antiga – necessitam de um diálogo mais duradouro. Neste jogo de incertezas, o olhar se revela ao homem o indicador mais preciso. É ele o mais fiel instrumento a revelar o timing que se seguirá. Contudo, meus caros, nem mesmo este é de todo confiável. Sempre será possível se deparar com os olhares oblíquos e dissimulados de uma Capitu...