Wednesday, November 04, 2009

Moby: o techno com alma


Depois de meses garimpando nos softwares de música gratuita (que não me leiam as autoridades anti-pirataria, mas esta é a alternativa para os menos afortunados), acho que finalmente consegui montar uma playlist decente em meu computador.

E assim, orgulhoso de meu feito, enquanto tomava meu brunch numa dessas manhãs-tardes de domingo, ouvia a tal trilha sonora, com as músicas se encaixando numa harmonia quase cartesiana, penso eu, apesar da variedade de estilos.

E nesse ritual prazeroso e narcisista em que me deliciava com meu suposto bom gosto e ouvido refinado, me deparei com aquele que é, pra mim, a sumidade da música eletrônica. Como que uma coincidência com o dia da semana, as caixas começaram a ecoar de repente, com a voz melódica e instigante da cantora que dá vida aos acordes eletrônicos, nada menos que “Sunday”, regida pelo maestro do mundo techno.

Richard Melville Hall, o responsável pela maravilha. Quem? Ah, também é conhecido como Moby. O carequinha mais estiloso e versátil do cenário Techno e responsável por dar alma a este gênero musical.

Há algo peculiar na figura de Moby, que o individualiza no universo Techno. Diferentemente de seus companheiros de agulhas, Moby fundiu o ritmo bate-estaca que embala festinhas regadas a ecstasy e outros barbitúricos, com o mais refinado rock‘n roll, empregando um misto de guitarras distorcidas e música ambiente e emprestando vozes potentes de gospel, melodias de piano e toques de blues, pra calibrar seu estilo único.
É capaz de alternar músicas com um tom nostálgico-melancólico, como as belas “The Sun Never Stops Setting”, “Rushing” e “Why does my heart feel so bad”, do álbum Play, com sons pulsantes que já embalaram trilhas sonoras, como as vibrantes “Extreme Ways”, We are all made of stars”,“Natural Blues”, “Raining Again” e a mais recente “The Stars” (reparem na mescla do piano com o vozeirão da cantora), entre tantas outras.

As críticas ao músico são justamente o que o tornam uma figura ímpar. É censurado por ter diluído o Techno, misturando-o com outros estilos. Sem dúvida, Moby é uma das figuras mais ecléticas neste meio. Não é à toa que a gênese de sua formação se deu em bandas de rock de garagem, em Nova York. Seu background abriga ainda experiências esdrúxulas e teoricamente inconciliáveis, como a fase punk a as aulas de violão clássico. Mas isso não o afasta por completo do mundo Techno. Apenas lhe imprime um caráter mais híbrido, já que pode tanto ser apreciado por multidões em raves, como numa festinha particular entre quatro paredes.

Num mundo em que pílulas de ecstasy viraram moda, sem as quais muitas das sonoridades não seriam suportadas por mais de um minuto, não deixa de ser um alívio saber que há músicos capazes de nos fazer transcender os sentidos sem a necessidade de potencializadores alucinógenos, acompanhados de efeitos colaterais indesejáveis, já que a música, por si só, é o maior e mais saudável dos estímulos.

Moby toca teclado, guitarra, baixo, canta e dança. E é ainda um minucioso pesquisador. Bate-estacas de plantão, digam o que quiserem. Vão lá brincar com seus malabares, que a coisa aqui é refinada. Com sua belíssima salada musical, o homem atingiu o Olimpo. Como sua própria música diz, Moby is made of stars.

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