Wednesday, February 12, 2003


O conquistador (devaneios...)

Juan era seu nome. Qualquer relação com o famoso conquistador da literatura espanhola não é mera coincidência. Desde que entrara na puberdade, estava fadado a ser um admirável sedutor. Começara cedo e, como quem nasce com um grande talento, tal como um Picasso ou um Mozart, não tivera professores. Juan era um auto-didata. Sua intimidade com o mundo feminino era algo natural, apenas aprimorada ao longo dos anos.

Nas cercanias da escola infantil onde estudara, deu seu primeiro beijo. Isto foi aos 9. Aos 11, teve sua primeira experiência sexual. Daí em diante não parou mais, tornando-se um verdadeiro expert na arte da conquista.

Vivia em constante estado de volúpia. Para ele, não havia lugar nem hora para as cantadas. Tal como um gavião, costumava espreitar os arredores, identificando os inúmeros corpos femininos que transitavam diante de seus olhos. Quando encontrava uma espécime de seu gosto, rapidamente dirigia-lhe a vista, de modo que seus olhares se entrecruzassem. Isto era crucial, uma olhada certeira era o início de tudo. A isto, seguia-se um sorriso, e o “trabalho” estava quase por completo. Para finalizar, geralmente uma observação, pueril que fosse, qualquer bobagem, algum gracejo, o importante era que se comunicassem.

Juan tinha vasta experiência com os variados tipos da fauna feminina. Sabia quando ser mais cauteloso e quando podia ser mais direto. Assim, ora fazia-se de intelectual, ora dava uma de surfista – pouca fala e ações concretas! E, embora não ignorasse a multiplicidade de personalidades femininas, sabia existir algo que todas admiravam em um homem: a confiança. Juan sabia como poucos o quão nociva era a insegurança de um homem para suas incursões amorosas. As mulheres, dizia ele, farejam o derrotismo à distância. Assim, embora não fosse exatamente um modelo de Giorgio Armanni, sabia se valer de suas qualidades e jamais dava ensejo para que pudessem, por um instante que fosse, achar que estava preocupado com suas imperfeições físicas ou intelectuais. Vivia assim em constante estado de graça e amava a si próprio com um fervor que por pouco não beirava o narcisismo.


Em se tratando de mulheres, não tinha quaisquer preconceitos. Loiras, ruivas, mulatas, asiáticas..., pouco importava, todas lhe interessavam. Cada qual tinha suas qualidades e ele sabia tirar proveito de cada uma delas. Também não tinha problemas com estilos – maluquinhas, patricinhas, punks, etc.-, circulando com facilidade por todas as tribos. Apenas exigia um mínimo de beleza e, às vezes (dependendo do seu “estado de espírito”), alguma inteligência. Contudo, embora fosse um astuto galanteador, não era tão bem sucedido quando se tratava de relações mais complexas. Juan se comparava a um velocista, especializado em casos passageiros. Quando, porém, era instado a percorrer as distâncias mais longas do universo amoroso, perdia fôlego. Passava então da superficialidade das relações efêmeras e adentrava nos mistérios da alma feminina. O que pretendiam afinal estas moças, quais eram seus sonhos, o que esperavam dos homens? Tais indagações não raro se revelavam inúteis. Ninguém sabe ao certo o que se passa na cabeça de uma mulher, esta é a única certeza que tinha.

Em que pese isto, Juan já namorara algumas dezenas de mulheres, de modo que começou a catalogá-las em uma grande planilha, onde não só constavam seus nomes como também suas virtudes e defeitos. E assim, por meio de uma matemática um tanto esdrúxula e obviamente fria, chegava ao que chamava de cmp (coeficiente da mulher perfeita). Quando tal coeficiente chegasse a um nível de excelência, dizia ele, entregaria-se então à vida monogâmica, a um estado de meditação profunda, abdicando de todas as demais mulheres. Sairia por completo da vida mundana, direcionando todo seu depósito de testosterona a uma única mulher e constituiria então uma família, à qual amaria intensamente.

Ocorre que, após muito procurar, Juan ainda está longe de achar um nível de perfeição que de fato lhe agrade e teme que não venha a encontrá-lo. No seu trato com o mulherio, pôde notar que elas, quando são muito inteligentes, geralmente são presunçosas e egocêntricas. Quando muito bonitas, são também narcisistas e incultas; quando não são workaholics, são dondocas mimadas em busca de quem lhes banque os luxos. E isto quando não são infiéis e mentirosas. Sem falar também na inconstância de sentimentos, que num instante revelavam paixão, para em seguida demonstrar indiferença.

De tanto lidar com as vicissitudes e contradições do universo feminino, Juan desistiu de encontrar a mulher ideal. E há muito desistiu de entendê-las também. Apagou sua planilha e, embora não tenha abandonado as mulheres, agora não busca mais a excelência. Juan vai agora atrás do que sempre foi: bumbuns durinhos e peitos volumosos, que ao menos estes podem ser perfeitos.